segunda-feira, 27 de maio de 2013

Orfanato Para Sonhos perdidos

I

A Casa Dos Que Não Existiam


A casa ocupava quase o quarteirão todo. Ela crescia em um cinza sóbrio por cima dos altos muros de tijolo a vista. Quem passava pela calçada a noite, tinha grandes olhos amarelados das luzes das largas janelas. Mas ninguém caminhava por ali.
A casa em si era de um estilo clássico, quase um vitoriano abandonado. Possuía seus três angustiantes andares. Uma ala principal e duas secundárias ligadas por longos corredores. Corredores em que nas noites de lua cheia permitiam a vaga claridade do satélite passar suavemente pelas leves cortinas de seda embaladas pela brisa, deixando tudo de uma elegância de épocas mortas.
O que mais se destacava era a grama de um verde-vida naquela cena descolorida. Talvez uma família, geração após geração, tenha vivido feliz nessa casa. Mas ela não foi erguida para ninguém viver ali.
Essa casa não existia. 
Na rua "De Quando Você Fecha Os Olhos", uma casa ocupava quase o quarteirão todo: O Orfanato para sonhos perdidos. 

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(Conto idealizado por Insônia e Pequena D'Alva)

domingo, 26 de maio de 2013

Gosto Quando me acorda com voz de sonho...

Gosto de quando me acorda com voz de sonho.
Talvez seja o meu predileto, daqueles que a gente tem em cochilos nas férias ou em noites frias e acobertadas. Daqueles que a gente sempre tenta não acordar e quando acorda, pensa nele o dia todo, para sonhar de novo.
Para sonhar para sempre.



quinta-feira, 23 de maio de 2013


Minhas palavras saem cambaleantes
Em meio a suspiros roubados
Negações tépidas.
Um ato falho implorado

Se tua boca não fosse tão covarde e lépida, me tomando a razão!
Se o teu beijo não fosse o mais doce sabor
Se o meu corpo não fosse uma miríade de sensações
Quando me liberta do cárcere do torpor

Meus atos não seriam tão prazerosa contradição.
Mas as palavras saem cambaleantes. E eu não faço sentido
E “sim” deixa de ser antônimo de “não”
Sussurrado em teu ouvido. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Memórias Fantasmas

Quando os pesadelos já não dormiam.
E as noites eram eternas vigílias.
Quando tudo que eu era, era alquebrado.

Memórias fantasmas e monstros cotidianos
Eu sempre acordava respirando a voz de outra pessoa
Eu sempre dormia com medo do escuro


Ele veio entre meus sorrisos
E eu fiquei entre seus abraços
    

Amor platônico de um amigo imaginário

Erro meu te escrever mais essas linhas.
Mas não fique tão ressentido, 
  já errei e dediquei coisas piores 
a gente de curta memória.

As linhas, elas sim, 
gostaram de você 
e não é culpa minha se você já as esqueceu.

Saiba
que se eu não tivesse te inventado,
não teria conhecido maus poemas.

No fim,
o que mais tive de real
são algumas folhas rabiscadas
que não fazem sentido para nenhum de nos dois.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sob a Rosa

    O pasto orvalhado fazia cócegas, acariciando os pés da pequena. Ela ria baixinho, imitando o balido das ovelhas, enquanto as conduzia para a parte mais plana da colina.
   A menina não deveria ter mais que seus ternos 10 anos, com as faces ligeiramente bronzeadas e os olhos verdes como um vale fértil. Seus cabelos caíam, desdenhosamente pelas costas em cachos cor-de-carvalho. Sua inocente beleza era um aconchego para os olhos, como a natureza que ali crescia sem pedir licença. As colinas se perdiam até o horizonte, todas de um verde vivo. Umas com vegetação densa, outras sendo campinas perfeita para observar o lugar por completo: o rio que corria manso lá em baixo e pequenas casas de um vilarejo.

    Nessa colina havia um freixo quase tombado pelo vento. Seu tronco se contorceu tanto que chegou a alcançar a grama e nela, rosas silvestres cresciam. A menina imaginava a árvore como um velho amante, que tentava colher as flores e talvez, quando conseguisse, se endireitaria. Enquanto as ovelhas se esparsavam em pequenos grupos barulhentos, ela caminha de olhos fechados e com os lábios esticados em um sorriso, deixando que a relva passe pelos meios de deus pequeninos dedos. Em um ponto a esmo da colina, se joga de costas em uma queda macia. Ainda de olhos fechados e mesmo sorriso, ouve o vento beijando suas bochechas suavemente e o som do rebanho cada vez mais distante.
    O sol já estava quase a pino quando a menina desperta, esfregando os olhos. Ela olha para o freixo com a visão tomada de pequenos borrões, aperta mais os olhos quando pensa ver uma sombra indistinta sob os galhos da velha árvore. Quando consegue focalizar, percebe que é um senhor de cabelos, barba e bigode brancos, o rosto bem vermelho, aparentando seus 70 anos. Ele percebe a menina e faz sinal para que ela se aproxime.
Ela percorre a colina, com o vento soprando em suas costas, quase que encorajando os passos curtos da pequena. Quando chega à sombra da colina, percebe que o velho estava ajoelhado e com a mão cheia de terra.
 
-Sou Léopold - diz o velho parando seu trabalho e virando seus olhos ternos ao encontro dos curiosos da menina.
    
-Agnela Pegorari- responde ela, com aquela timidez infantil engolindo as palavras- Porque está colhendo essas rosas, O que o senhor faz aqui?
 Ele dá um sorriso, fazendo seu bigode parecer um gato se espreguiçando. Olha para as flores dançando com a valsa do vento e começa a falar em um tom mais sério.

-Este é meu rosarium. Eu plantei cada flor debaixo desse freixo a muitos anos antes de você nascer, pequena, e a cada primavera, retorno a este mesmo freixo para levar mais algumas rosas para meu roseiral em L'Hay-les-Roses. Eu plantei mais sementes que você tem de ovelhas...
  

-Mas porque vem de tão longe, se tem seu próprio jardim? Com as rosas nascendo em seus cuidados, elas devem ser mais bonitas e cheias de cor que essas simples rosas campestres... - interrompe Agnela, a divagação do velho jardineiro.
 
-Agnela... Sabia que as rosas silvestres quando estão prestes a morrer emanam um perfume tão sublime... Tão sublime que nenhuma outra rosa tem? Eles ficam em mim e minha casa por muito tempo além do que a minha velha memória me permite. Minha doce Alba, em nenhum ser eu vi tanta paixão e monstruosidade como nos olhos e lábios carmesim dela. Alba!Alba! Como te amei! Mesmo sabendo que seu coração já não pulsava, porque eram suas promessas que faziam o meu pulsar. - Os olhos do florista se enchem de uma raiva colérica antes de ele agarrar a saia da menina, espalhando terra para todos os lados. Agnela se assusta, mas logo os olhos de Léopld se esvaziam e a menina só consegue sentir pena daquele homem.

-Mas sua Alba sempre estará viva! Muito depois que o senhor se for, essas rosas continuarão a florescer aqui, primavera após primavera, enchendo essas colinas de vida!- falava com os seus olhos verdes mais ricos que nunca, exaltada pela história do pobre velho.

-Não sabe como está demoniacamente correta... A Casa das Rosas sempre irá florescer independente de quão rigorosos são os invernos, quão fraca é a terra onde suas raízes se fincam e quão ingênuos são seus jardineiros... - Fala o velho com o olhar vítreo enquanto sua boca se meche debilmente.

    A menina não entende mais nada e tem medo de querer entender. As ovelhas começam a se aglomerar na mesma colina que os dois, com o balido nervoso. Ela tenta se desvencilhar das garras sujas do homem, mas ele a segura com mais força:

-Ouça! Espere! Ouça essa confissão de um velho com o seu coração pesado de tanta culpa! ESCUTE-ME!

    Ela se esforça para olhar para a cara de Lépold, com os olhos revirando nas próprias órbitas e a voz desvairada ele tenta falar, mas a respiração falha, ele tosse e quase morre engasgado com o próprio segredo.

-Aqui não é apenas um Rosarium, é onde enterrei meus pecados. Onde minha Alba descansa eternamente. Aqui era para ser seu túmulo, mas não pude aliviá-la de seu sofrimento! Ela me pediu para mata-lá... Mas eu só a coloquei dentro do caixão enquanto estava desacordada e... E... A enterrei! - O velho se debulha em lágrimas e soluços cortantes na saia, agora imunda da pastorinha.- É por isso que retorno TODA... MALDITA... PRIMAVERA!

 
   
    A pastorinha corre colina abaixo empurrada pelo forte vento, parecendo só mais uma ovelha assustada. Ela nem olha para trás, de onde vem urros do pobre jardineiro. Às vezes quando ele tomava fôlego, ela jurava que podia escutar um sussurro “Léopold" do vento com perfume de rosas.
 
  

   

terça-feira, 14 de maio de 2013

Minha ex-amada


Ao lembrar-me de antigamente. 
Daqueles olhos ardentes, pior que os de serpente. 
Trazia consigo, um sorriso, que me deixava cativo. 
Por entre esses risos eu me apaixonava.

Seria tão simples e fácil esse amor. 
Quase uma semente a ser semeada. 
Começo e fim, teve. 
Infelizmente sem o meio, pois logo após a ti declarar, 
descobri este verme que lhe castigava. 

Minha Isabella, de antes tão bela, por essa doença de mim foi tirada. 
Peste, seria a palavra que eu odeio agora.
Peste que te levou embora.   
Isabella, minha ex-amada. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sally-Ann




   O pequeno gato preto me seguiu com os olhos, olhos atentos, olhos verdes, enquanto eu andava pelas ruas desertas de uma cidade escura, fria e abandonada. Minha mão segura, quase inerte, a garrafa de uísque já amornada até a temperatura do meu corpo, que luta incessantemente com a mordente brisa que insiste em roubar aos poucos o tímido calor que escapa com meu hálito. O pequeno gato preto de atentos olhos verdes mia, pula, derrubando algumas latas de lixo. O som, alto, rasgante contra o silêncio opressor na noite, me faz saltar.Fecho melhor meu casaco puído, aperto meu cachecol e bebo um gole do âmbar ardente que tem sido meu único amigo nos últimos dias.
   Enquanto timidamente lembro da minha vida, histórico esse de fracassos sobre fracassos com pequenos sucessos que teimam em me dar esperança de que talvez, talvez, tudo melhore um dia desses.
Ando para o norte da cidade, em direção as pontes antigas que eu costumava visitar com ela.
Não pretendo me matar, sobrevivi a dias piores que esse. Só quero relembrar.
   Meu pequeno e fedido apartamento, com minhas companheiras de quarto insetóides, cascudas e nojentas, fica a oeste, mas quero me livrar do barulho incessante do subúrbio subumano, das pias manchadas com coisas estranhas que devem, com certeza mais que absoluta, ter origem xenomórfica, da pizza estragada no canto da cozinha e das baratas saindo pelo ralo do meu chuveiro (que só funciona na posição verão, que me delega banhos com água tão fria que deve ser trazida do ártico só para o meu prédio).
   Quero fugir do meu inquilino fedido cobrando o aluguel do mês, meu chefe gritando comigo (e me demitindo de novo), minha ex namorada ligando pra saber quando eu vou devolver alguma coisa menial e ridícula que só esqueci de devolver na semana passada pra piorar essa semana atual.
   Quero fugir do fato que eu tenho quase 30 anos de idade, não tenho nenhuma prospectiva saudável de emprego, sofro levemente de alcoolismo (fortemente de alcoolismo), tenho medo de mulheres, não consigo pronunciar três palavras sem gaguejar e não tenho ninguém pra pedir ajuda.
   Tenho uma barba mal feita (não tive dinheiro pra comprar o aparelho descartável essa semana), uma pequena barriga, luvas de lã (furadas) e 3 ou 4 camisetas diferentes.
Me formei como programador, mas nunca consegui emprego como programador.
   Fui entregador de pizza, ajudante de contador, caixa de mercado, embalador de produtos no mercado, faxineiro no mercado, e caixa na loja de comida chinesa.
Parei de ser entregador quando perdi a moto numa aposta, fui demitido da agência de contabilidade por beber demais, declinei rapidamente de posição no mercadinho do bairro até atingir o fundo do poço por que não conseguia me livrar das dívidas que adquiri por causa da minha ex-namorada, e não satisfeito com isso, tirei o calçamento do poço e virei caixa de uma loja de comida chinesa com 3 metros quadrados de espaço e um cozinheiro que espirrava no rolinho primavera dos clientes.
    Enquanto ando sem sentido até as pontes no lado norte da cidade, eu me pergunto por que minha vida é tão ruim.
Claro, podia ser pior, eu podia estar passando fome. Eu podia nem ter o restaurante chinês de 3 metros quadrados.
   As pontes me lembram do único momento feliz da minha vida, dos dias em que eu era feliz de verdade.
   Quando conheci Sally-Ann, eu estava nessa mesma ponte pra qual eu estou indo, a fíbula quebrada e saltada, fragmentada, do antigo sistema de ferrovias estadual. Naquela época ela já era marrom e pichada e enferrujada, quase caindo. Eu estava sentado no beiral da murada, com 20 anos de idade, pensando em quanta falta eu faria se eu caísse no mar lá em baixo. Meus cálculos resultaram em "pouca falta", como vocês podem esperar. E quando eu tomei coragem de terminar tudo, de pular, eu ouvi uma voz falar. Alguém falando comigo:

"É alto daqui, não é? Seria horrível cair."- Ela era pequena, morena, sardenta, e era absoluta e terrivelmente linda.

"Meu nome é Sally-Ann, qual é o seu? Achei que só eu vinha aqui"- Eu tentei falar. Eu juro. Mas eu nunca passei de algo que podia ter soado tanto como meu nome tanto como "kabob com queijo". Maldita gagueira. Ela riu, e estendeu a mão pra mim. 

   Quase 10 anos depois disso, e eu lembro da risada dela.
   Sally-Ann foi meu mundo, meu tudo. Por ela, eu fiz tudo aquilo que nunca teria feito sozinho.
   Sally-Ann esteve do meu lado, todos os dias da minha vida.
   E ele esteve do lado dela.
   Eu sempre amei Sally-Ann, porém, eu nunca falei nada. Como eu poderia? Quem iria me amar? Eu, um pobre gago sem esperanças para o futuro? Então, eu a deixei partir.
   Faziam quase 3 anos que eu não ouvia notícias de Sally-Ann, e faziam 3 anos que eu tinha ido parar no fundo do poço. E parado ali, de novo, quase 10 anos depois disso, sentado na murada daquela velha fíbula quebrada e estilhaçada do que parecia a sátira de uma ferrovia que descansara ali a centenas de anos atrás, eu pensei que podia ouvir a risada de Sally-Ann de novo. Oh, céus, como eu queria que você estivesse do meu lado, Sally. Eu queria poder falar pra você, falar, falar tudo que eu não falei nesses 10 anos, Sally-Ann. Eu queria poder dar a mão pra você, ouvir sua risada, ouvir você falar que tudo ia ficar bem. Sally, eu sinto sua falta. Nada vai ficar bem. Nada nunca vai ficar bem comigo, não sem você, Sally-Ann.
   O pequeno gato preto me seguiu com os olhos, olhos verdes e atentos, enquanto eu caia pelo ar gelado da costa de uma cidade escura, deserta, fria e abandonada. Minha mão segurava, inerte, a fria mão da mulher que eu amei, enquanto a maré gelada insistia em roubar de mim o pouco ar que meus pulmões lutavam para guardar. O pequeno gato preto mia, e segue andando. Nunca fez diferença para ninguém.

Nunca faria.

(Texto de um amigo)










quarta-feira, 8 de maio de 2013

A chama de uma vela




   A pele dela se tornava tão fria e áspera, quanto o chão que ela estava estirada. Lúcia conseguia ver a aurora da primavera  por seus olhos semi-serrados. Só um toco de vela tremeluzia no quarto. A mulher tenta focalizar o relógio, mas seus olhos se embaçam ainda mais. A luz daquele dia já começava a se esgueirar pelas frestas da persiana e Lúcia via o ar dançar nos raios de luz, em caleidoscópios empoeirados. Ela inclina a cabeça um pouco para frente, pra tentar adivinhar a posição dos ponteiros. Quando ela consegue reunir forças para tentar sentar, a pressão cai e lhe faz tombar no chão como uma boneca de pano. Então a letargia vai dar uma volta em suas memórias.

  O homem levanta totalmente trôpego do sofá e esparrama as folhas de desenho pelo chão. As manchas se acumulavam pela sala: Vinho no tapete (e alguns cacos de vidro) e pequenas partes chamuscadas pelas brasas que pulavam da lareira. No sofá, digitais desde carvão até tinta à óleo vermelha. Pela quantidade e poucos "tons" dessas manchas, poderíamos afirmar que ele fazia isso com uma frequência quase compulsiva. 
  Quando termina de reorganizar as folhas pela terceira vez, senta-se no sofá e olha para sua criação. O desenho se torna mais belo, quase vivo, pelas luzes coloridas das dezenas de velas espalhadas pelo apartamento.Já faziam algumas semanas que cortaram a luz, e essa semana, seria a água. Ele suja todo o rosto de lápis de desenho, tentando secar as lágrimas que corriam grossas e o emudeciam.

"Lúcia..."- é só o que escapa entre os soluços, antes que dele desmaiar no sofá. 

  O calor da sala o faz acordar assustado. Mas o crepitar não vem de nenhuma fonte de luz da sala. Vem de uma mulher, vestida só com um meio sorriso, em pé na frente da lareira. Ela era a personificação do desenho do nosso boêmio. Ela era Lúcia. 
  Ele faz promessas mentais a si mesmo enquanto a mulher se aproxima dele: Que não vai mais beber. Que vai arranjar um emprego e uma mulher de verdade. Lúcia nunca existiu na vida dele e de mais ninguém. Ela só era um esboço de amor platônico.
  Quando a pele dos dois se encontram, ele se afasta em um átimo. Lúcia tinha a textura e temperatura de uma vela recém acesa. Ele só a olha, cada parte do corpo da moça, foi esculpido em sua mente: Os cabelos loiros, que ondulavam com o movimento de uma chama. Os olhos âmbar com sombras inexplicáveis. A pele alva como algodão. O corpo como estátuas de velhas deusas: seios médios e redondos, coxas fartas e roliças. 
  Lúcia se aproxima novamente, colocando suas mãos ao redor do pescoço do seu criador. O âmbar se acende. Ela o beija com os lábios desejosos, puxando o corpo dele cada vez mais forte ao encontro do dela. Ele dessa vez não recua.
 Pela manhã, ele não se lembra como chegou em sua cama e nem de ter se despido antes de deitar nela. Estava prestes a reforçar sua promessas da madrugada passada, quando vê sua obra viva acendendo uma vela na estante improvisada. Lúcia era a melhor coisa que tinha acontecido a esse artista falido. Decidiu viver esse amor, sendo real ou não. 

"Enquanto essa vela queimar, seu amor permanecerá aceso dentro de  seu peito"- Ela disse com a voz doce, mas parecia ser mais uma advertência que uma declaração apaixonada. 


  
  A sombra da persiana já alcançava o corpo quase inerte no chão do quarto, quando ele chega. Ele caminha, andarilhando, até o quarto. Além do cheiro de bebida, ele tem impregnado um perfume barato. O cheiro logo se espalha pelo aposento, levado pela lufada de vento quando abre a porta. 

"Lúcia.." é o que mais uma vez sai de sua voz embargada. 

A vela sopra uma fina fumaça e o homem caí de joelhos ao lado de uma grande mancha de cera.

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"Just don't forget a candle's fire. It's just a flame"

terça-feira, 7 de maio de 2013

Letargia, velha amiga

Você que me conhece tão bem.
Confidente das horas tardias,
Chegou enfim, quando preciso de alguém. 
Letargia, velha amiga
É bem-vinda, se assim lhe convém.
Só peço que me envolva com os seus braços,
Para eu não precise, imaginar o abraço de mais ninguém.
Letargia, velha amiga
Nesta noite, a sua, é a melhor companhia
Já que os sonhos, à muito me traíram
E hoje, o sono também.

sexta-feira, 3 de maio de 2013



Texto de apresentação da "Pequena D'Alva". Que ela seja o melhor depois da Insônia para vocês também:


Paisagem montanhosa atrás do Hospital Saint-Paul

         
   “Louco! Dizem que estou louco! E de tanto repetirem isso, estou começando á crer que é verdade... Espere! Talvez, só por um talvez, eles estão certos! Deus aonde estou? Hospital! Sim, um hospício, ou um asilo. Ó céus onde está minha sanidade? Onde está minha orelha?!”

Assim ele acorda piscando freneticamente procurando uma visão ampla de onde se encontrava.

   - Vincent, se acalme! – Falou uma enfermeira que entrou no quarto. A qual possuía longos cabelos loiros, presos por clássico coque.
   - Quem é você?! – Ele berrava gesticulando coisas sem sentidos com as mãos.
   - Sou Marie, não lembra-se de mim? Sou sua enfermeira, conversamos ontem – Explicou para ele.
   - Marie? Marie! Quem é Marie? Espere, sim, é a minha gentil enfermeira. Olá Marie! – disse mudando completamente de humor
   - Vejo que está mais calmo... Bem, tenho uma surpresa pra você Van Gogh!
   - Minha orelha?! – Mostrava agora, um sorriso de criança no rosto.
   - Sua orelha continua no lugar que sempre esteve Vincent! Lhe trouxe algumas tintas e essa tela – Ela respondeu
   - Muito obrigado Susan... Quero dizer, Marie? – Confuso
   - Sim Marie. Então Vincent, se quiser pintar, vou deixar em cima de sua maca –
   - Que maca?! – Perguntou de olhos arregalados
   - A que está sentado Vincent – Falou atenciosa
   - Ó achei! Obrigado Marie.

   Assim, ela sai, deixando-o sozinho com sua loucura.

“Como era mesmo? Tela, depois tinta, aí pintar. Não, acho que era pintar, tela e depois tinta...”

    Ele então, começa a balbuciar descontroladamente na esperança de lembrar pelo menos como se fazia, a coisa que sempre fez.
Um tempo depois, o mesmo se dirige até a janela e admira a linda paisagem de trás do hospital onde se encontrava.

“Céu, montanhas, casa, grama... Céu, montanhas, casa, grama!”

Estalou os dedos e correu até sua maca, pegou seus materiais e voltou. Já no caminho, espirrou gotas grandes de tinta na tela, espalhando-as com seus dedos.

“A casa! Casa! Aquela que está ali...” – Cantarolava como um bobo enquanto fazia sua arte.

“Grama! Como gosto dela! Se Gauguin, estivesse aqui ele iria adorar. Não! Eu briguei com ele!” – Suas passadas na tela, que antes eram calmas, se tornaram grossas e agressivas.

“Ha ha! Você gosta do céu não é Gauguin?!” – Estava sínico, chorando e rindo.

“E as montanhas? Grandes e imponentes, tão diferentes de você, de mim!”

Nesse ponto, tinta respingava para todas as direções. Cantando e berrando com o nada. Até finalmente, dar seu veredito, considerando a obra finalizada.
Sua respiração estava ofegante, por conta disso ele se senta no chão balançando-se para frente e para trás. Até algo, que parecia uma luz de sanidade que brotava em sua mente, fazer despertar daquele transe dizendo aos gritos:

“Paisagem montanhosa atrás do hospital Saint-Paul!”

Com toda sua barulheira, Marie a enfermeira, abre a porta rapidamente e muito preocupada.

- Aconteceu algo Vincent?

Ele respirou, parecendo pensar:

-Minha orelha Marie... Acho que a cortei... – Falou cabisbaixo, encarando a linda obra que acabara de criar.

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sobre sua saudade e Autopsicografia





Veio.
Tornou-se em um golpe “Senhora do Meu Coração Inteiro”.
E eu cativo do seu beijo.

Mas o tempo,como ata nós, também desfaz laços,
Sentiu inveja e fez o dele, o seu desejo.
Partindo para o exílio,em outros braços

Mesmo que seja déspota, pulsando em outro peito
Não deixa de instalar no meu, o receio
De não poder viver a vida plena
Sem que eu tema, que seja senhora também desse momento.

É em você que tudo o que sinto faz fronteira
Por isso vivo essa vidinha-mais-ou-menos
Amando de per meio
(Tomei emprestado seu sentimento. Li e escrevi por você. Porque todo poeta é um fingidor.)

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