sexta-feira, 29 de novembro de 2013



CORAÇÃO QUE PULSA DUAS VEZES ANTES DE BATER

RE PULSA

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Acorde




Fica Sol
com Dó de mi
ou ficar soLzinho

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Despedaça


Isso que faz, me corrói feito traça.
Então coma meus versos, deguste cada dor.
Engasgue-se nesse amargo torpor
Enquanto me   des  pe  da  ça.


Quando acontece, minha vontade se rechaça.
Não tem como se opor
Só queria que fosse indolor
Enquanto me   des  pe  da  ça.


Meu corpo transparente, frágil vidraça.
Sublima pelo calor
Ciente que do fato é o mentor.
Sou eu que te abraça, enquanto me des  pe  da  ça.





terça-feira, 19 de novembro de 2013

Vespas: Histeria

II
Histeria


    O consultório era um lugar estéril para o homem. Mesmo sentado no sofá almofadado, mesmo o lugar sendo condescendente a sua classe, ele se sentia desconfortável. Os pés inquietos, olhos fixos no chão, dedos tamborilando no colo. Ele estava impaciente para se retirar dali, com ou sem sua mulher. Mas o que mais o irritava era o sorriso da recepcionista, dava para ouvir o "Eu sei o que vai ocorrer daqui a pouco. Que vergonha para um homem como o senhor sua mulher ser assim." por detrás daqueles lábios esticados. 
   A porta se abre e um médico calvo e de barbas brancas, cumprimenta e o convida a entrar. Que alívio.
 
   "Há quanto tempo"!- diz o médico indicando a cadeira defronte a sua mesa para o outro- "Triste saber o que houve com a Dália, George. Mas veio à pessoa certa, aqui ela receberá o tratamento certo e o sigilo necessário.
 
-Obrigado Dr.Leifert. Como vai a Constance e as meninas?- Ele diz isso com um sorriso envergonhado para o médico. Um amigo de longa data seria mesmo a melhor opção?
 
-Ah, a Constance anda meio constipada, culpa do climatério feminino e esses fogachos. As gêmeas vão bem, precisa ver como a Brenda e Bianca estão coradas e viçosas! Elas completam 15 em maio. Vou fazer a festa na fazenda que destes a mim e a Constance de presente de Casamento.- O sorriso do homem é quase todo escondido pela barba alva.

-Preciso falar com Dália, talvez ela queira passar uma temporada na Europa novamente. Sabe como ela detesta esse clima quente de Novembro- George dá um sorriso amarelo e o Doutor percebe que a conversa se estendeu demais.

-Bem... podemos iniciar a entrevista então?- George faz um aceno positivo com a cabeça e o Médico liga o enorme gravador que ocupava quase a mesa toda. Então ele prossegue com uma voz profunda:

" 17 de novembro de 1921. Caso de Histeria de D.B. Entrevista com o Marido.-Faz uma curta pausa e continua.

-Senhor B. Quando percebeu que sua mulher apresentava os sintomas?
-Depois de consumado o casamento, ela não engravidou depois de 2 anos...
-Eram regulares os coitos? Via alguma diferença nela nessa hora?
-Eram... mensais, quando estava em seu período fértil. Não, ela agia como toda mulher de família age- responde George nervoso pela interrupção.
-Entendo. Prossiga.
-Fomos a um especialista em fertilidade e vimos que ela não poderia engravidar. Então na mesma semana ela começou a apresentar crises de sonambulismo e tiques. Piscava os olhos demasiadamente e suas sobrancelhas se contorciam.
-E há quanto tempo foi a consulta?
-Foram a mais ou menos quatro meses. Fomos em Agosto.
-Além de sonambulismo e contrações involuntárias, percebeu mais algum sintoma?
-Não, mais nenhum.
-Tudo bem. Pode me contar mais sobre vocês?
-Bem, ela era filha de um antigo professor meu da faculdade. Em um de nossos longos passeios pelo campus,me dissera que tinha uma filha fora da idade casadora. Muito educada, bem instruída, mas meia feiota, me confidenciou com pena. Ele disse que o faria muito feliz se nos cassássemos. Eu prometi que o faria. Nos casamos quando ele adoeceu.
-Quantos anos tinham?
-Ela tinha 28  e eu 36.
-Casados a quanto tempo?
-5 anos em janeiro.
-Hmmm.. me falou que o pai dela tinha adoecido. Ele ainda vive?
-Não, morreu quando estávamos em lua de mel.
-Entendo. Isso pode ter influenciado.
-Nutre, qual tipo de sentimento por sua mulher? Afeto, desejo, raiva?
-Tenho respeito por ela e ela a mim. Isso é o que importa em um casamento sólido. O amor acaba durante os anos, respeito nunca, mesmo se o marido precisa impo-lo.
-Entendo.
-Tem alguma amante?
-Isso é um absurdo! Acho que está além de suas pesquisas essa sua pergunta, me recuso a responder.- O Doutor Leifert, pede para George ter calma com as mãos.

Caso de histeria de D.B. Entrevista com o marido concluída. Agora vamos analisar o caso de conversão por meio dos estudos das zonas histerógenas da paciente."- Mais uma curta pausa e com um "tick" desliga o gravador.

-Obrigado George, suas respostas foram bem elucidativas para o caso. Pode ir até a minha secretária para marcar as próximas consultas da Dália.

   O homem sai da sala meio tonto. "estudos das zonas histerógenas da paciente..." O sangue dele ferveu com essas palavras. Velho decrépito. Asqueroso. "Minha Dália é a mulher mais decente que eu já conheci, nem ruborizava ao cumprir os seus deveres de esposa. Oh, minha querida, me perdoe por isso."
  Chega até o balcão a passos tortos, murmura que quer marcar as próximas consultas e ele está lá novamente, aquele sorriso de deboche da secretária.
-Quantas consultas deseja marcar, Senhor Blackwood?
Ele se prepara para dar um forte tapa na cara sem cor da mulher, quase encolhida na cadeira. Mas outro som invade o consultório. E os ouvidos de George.

"uhhhhhhhhhhhm... uhhhhhhhhm... ahhhhh... ahhhh... AAAAAAAAAAAAAHHHHH!"

   O som perfura seu corpo como uma lamina fria. O medo corrompe todos os seus sentidos. Ele treme. Não sabe mas treme. Desce as escadas correndo até o carro, o som ainda está na sua cabeça e talvez fique para sempre. Um som do pecado e doença, uma eterna lembrança do inferno. Ele senta no banco e percebe que está entumecido. Memórias antigas são desenterradas, junto com uma torrente de lágrimas que ele é obrigado a engolir. Beijos doces de uma boca agora desconhecida, cheiro de pele quente. Se cheiro, sua boca...

"Velho Asqueroso"-Fala com cólera antes de dar a partida e arrancar com o carro. 

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(Continua)


  


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Vespas: Duas Vidas, um sonho.

I

Duas Vidas, um sonho.


     Não me lembro da última vez que saí do quarto escuro. Eles me deixavam amarrada, me injetavam uma coisa que me deixava esquisita. Parecia que tinha outra mulher na minha cabeça, dentro dela. Eu sonhava no quarto escuro. Tinha um sonho onde eu corria em um longo campo de relva macia. Eu me lembro de sorrir o tempo todo nele, eu acho que era verão porque o vento era um doce alívio a minha pele. Meus cabelos dançavam soltos, as copas das árvores se juntavam a valsa. Então uma mulher magra e feia, com a cara retorcida em um sorriso, eu me lembro de sentir medo nessa hora, me puxava pelo braço, ela me puxava com tanta força que não conseguia fechar minha mão. Me levava até um lago. Mas era um lago fedorento, de uma água turva, sem margem nem peixes. Então ela me levantava pelo pescoço ( a cara dela parecia tão triste nessa hora) e segurava minha cabeça dentro da água. Eu me debatia e sentia nojo por estar engolindo aquela coisa pastosa entrando na minha garganta. Eu tentava levantar a cabeça, fazia toda a força que podia, minhas mãos não alcançavam nada e ficavam entrando e saindo do lago. Podia ouvir o som abafado delas do meu lado, incapazes. Bolhas gigantes saiam da minha boca e meus pulmões queriam tanto respirar que doíam. As bolhas ficaram menores até cessarem. Nesse ponto eu acordava na escuridão, suada. Sabia onde estava e logo eles voltariam.
    Sabia que tinha gritado enquanto dormia, sempre faço isso. Eles me espetam com agulhas longas, me deixam sem comer. Isso faz minha cabeça latejar e eu ter tanta tontura, mas o que mais me assusta que é Ela sempre vem antes deles me levarem para fora, como hoje.
    No começo me deixavam andar pelos corredores do prédio, ele é todo azulejado branco, com cheiro de pinheiro. Mas uma vez um homem me agarrou e queria me beijar, ele disse que eu tinha feito coisas muito ruins e que agora eu receberia minha punição. Eu mordi o pescoço dele e esguichou sangue. Vieram mais homens e me seguraram. Um outro de terno estava gritando e disse que o Sr.Blackwood não poderia saber disso. Eu tentei me lembrar quem era o Sr.Blackwood, mas então senti uma picada e dormi.

   Agora eu estou em um quarto pequeno, gosto dele, o sol fica mais tempo na janela. Só não gosto de quando o deixam escuro. Não gosto do quarto escuro. Ele fica cheio de vozes nos sonhos, e eu vejo pessoas que eu não me lembro. Sou adulta quando o quarto não tem luz e sempre fico muito doente. Eu sinto frio, tanto frio, mas meu corpo ferve. Eu tremo muito também. E quando eu posso voltar a ver o sol, enchendo o quarto todo, eu me sento contra a parede, ela fica morna e aconchegante. Aí, eu durmo e sou criança novamente.
   Eles estão vindo! Posso ouvir os passos...!

...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram... 

...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram...
...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados, se eu gritar, me picam e me amarram...
...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram......Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu correr, me picam e me amarram...
...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram...
...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram...
...Desapressados eles vem pelos corredores azulejados,se eu gritar, me picam e me amarram......

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(Continua)




segunda-feira, 11 de novembro de 2013


Quando seus espelhos do orgulho se erguem
A sua tristeza é só espelhada.
Como espera que os outros te enxerguem,
Se não é a imagem da tristeza velada?
Me diga como consegue maquiar um sorriso,
Se seus olhos estão embaçados ?
E nesse espelho não se vê, mas enxergar-se o nada,
O reflexo é conciso
E a tristeza ainda está lá, inteira, quando enxergada
Você que vira cacos, espalhados

                                              
                                           al
                                                   
                                                  
                                                       que 
                               


                                         bra
                                                                  do








quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O Vazio tem seu nome, Mariana.

Esse conto foi idealizado com a ajuda de Hibernal Dream, um futuro Ghost Writer. Ele me deu um tempo da sua madrugada para trocarmos nossos textos e de um dele surgiu essa ideia. Nosso conto, com orgulho. Aproveitem.




      O desespero vem rápido como um tiro. A morte sobe os degraus, fazendo a escada ranger dolorosamente. A madrugada mal começou e eu estou quase no fim do maço de cigarros. Dou uma longa tragada e posso sentir o alcatrão fazendo seu caminho até meus pulmões cansados. O gosto queima na garganta e permanece forte na língua. Expiro o veneno, carbono e lembranças. As lembranças são as notas mais fortes dessa essência de desaconchego.  A fumaça dança em espirais na penumbra, iluminada pela fresta da janela formando vários retângulos de luz no piso da cozinha.
Incrível  como posso me recordar dela na primeira manhã, depois da primeira noite. Descabelada e rouca, andando na ponta dos diminutos pezinhos até a cozinha. Linda. É como se a casa tivesse memória celular e se lembrasse de cada toque nas paredes, de cada roupa jogada pelo chão, cada vez que ela suspirou dentro dos cômodos, cada lágrima pelos cantos e guardasse como o último rosto a ser lembrado antes da demolição. Infelizmente só a casa lembra, porque não consigo lembrar do rosto dela. Posso ver claramente o sorriso, o olhar de soslaio, mas se tento concentrar no rosto completo, por mais que eu me esforce, a mente falha. Eu daria meu passado inteiro, pela só pela lembrança do rosto dela naquela manhã primeva. Desde o momento que as pupilas se contraíram por causa da luz, até o sorriso que ela me deu, músculo por músculo daquela face corada pelo sono por mim acompanhado. Esse seria o momento que eu gostaria de ver antes de morrer. Porque esse foi o limiar dos meus sonhos mais belos e a ruína da minha seca alma. Quando eu me lembro do rosto de Mariana, é tudo breu infindável, é quando eu estou sozinho em meus pensamentos.
Termino o maço, lembrando que dizia que o cabelo dela tinha cheiro de orvalho. Que idiotice! As bactérias que evaporam do chão tem esse cheiro, não a água. Mas mesmo assim eu me sentia Drummond falando isso aos sussurros para a minha musa. Depois quando ela pediu “um tempo”, eu vivia repetindo e vivia para repetir o “Não se mate. Carlos,sossegue,o amor é isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija,”, sendo eu um outro Carlos ferido, esse poema virou oração. De tempo em tempo, veio à separação e um novo amor. Para Mariana.
     Arrasto-me até o amontoado de cobertas onde ficava nossa cama. Eu queimei-a no último acesso de frustração. “Ela me esqueceu”-repetia bêbado- enquanto o metal retorcia e estalava. No fim, sobrou só o refugo de um homem, de uma cama e de um amor que não vingou. O sono vem logo, junto com os mesmos pensamentos que me visitam há meses.  Na primeira vez que encostei a pistola na língua, tive a impressão de que o ferro tinha gosto de sangue. Isso me fez suar frio e abandonar a arma na terceira gaveta do criado mudo. A ideia também foi trancada em algum cofre da mente, junto com os devaneios de aparecer pelado na escola e meu primeiro sonho molhado. É vergonhoso lembrar-se disso, você se sente vulnerável demais e tenta nunca mais se sentir assim. Mas as vezes esses cofres são arrombados pela confiança em outros. Um anônimo que tenha os seus sonhos, um amigo que tenha seu corpo, um amor que tenha sua vontade, seus sonhos e seu corpo. Mariana...
     A noite se desfaz como veio: Estúpida e fria. Me sinto um mendigo, sujo e bêbado, enrolado em uns trapos que foram cobertas um dia. Acho que talvez eu seja, um mendigo esquizofrênico que se imagina em um apartamento velho e quase sem mobília, chutado por uma mulher. Droga, seu eu realmente fosse estaria sibilando isso com o cabideiro e não em um solilóquio. A boca seca, os olhos tortos... ressaca. Talvez seja a hora de uma carta. Me levanto com o quarto rodopiando, vou até meu casaco roto e dentro dele pego uma lápis pela metade, roído e uma caderneta. Me escoro e sinto a parede deslizar pelas costas até chegar no frio chão. Olho para a janela com cortinas improvisadas de lençol. O sol já vem, Carlos. Perco uns minutos olhando para a esparsa luz que invade a fresta e o ar sujo do quarto. A pele dela ficava tão linda tocada pela luz de um dia que deixou de existir. As cores tinham tons de sonho, desfocadas e caleidoscópicas. Minha mão treme um pouco, tirando-me do devaneio. O papel está pronto.

" Mariana, maldita seja quando seu sorriso se perdeu em meus olhos, eu... "

    Paro de escrever, ela não merece nem essas torpes linhas. Vou partir como vivi nesse mundo: sozinho. Sei onde está a arma. O gosto de sangue não está mais no cano. É férreo sim. Do jeito que seu beijo costumava ser... Mariana... 
         O desespero vem rápido como um tiro. A morte sobe os degraus, fazendo a escada ranger dolorosamente. Mas eu lembrei de trancar a porta?