domingo, 30 de outubro de 2016

Eu sei que continuamos morrendo





          Eu sei que nossos maus hábitos vão nos tornar velhos doentes, mas doentes já somos e envelheceremos mais um pouco antes de terminar esse parágrafo.  
    Enquanto meus dedos esquálidos, de unhas roídas e incolores, tamborilam desconfortáveis pelo teclado, minha mente insone tenta conduzir esse texto da mesma forma que um maestro conduziria. Durante um ataque epilético. Com uma perfeição imprevisível.
     Com uma imperfeição previsível: eu sei que continuamos morrendo. Ou que continuamos tomando remédios demais mesmo já sendo doentes. Talvez tomamos remédios de menos e por isso envelheceremos mais um pouco antes de terminar esse parágrafo.
     Compre um complexo vitamínico e pare de fumar. Talvez assim não morramos antes de tornarmos velhos ainda mais doentes, mesmo que sua condição genética te de câncer antes dos 60. Ouça sua mãe, seu médico, seu horóscopo. Eles dizem que librianos tem problemas de infertilidade por causa do sereno. Ouçam eles e ignorem que continuamos morrendo.
     Eu sei que nossos hábitos vão nos tornar velhos doentes, mas eu gosto do som nilístico de desperdício que do meu coração arrítmico faz. Toda vez que você me toca. Mas eu gosto de imaginar suas células oxidando toda vez que seus pulmões se esforçam para sublimar em meu ouvido. 

    Doentes já somos e envelheceremos mais um pouco lendo as próximas pausas, entre vírgulas, eu sei, que, continuamos morrendo, na próxima vez que suspirarmos, um ao outro, resfolegando, eu te amo.