quarta-feira, 26 de junho de 2013

Palavras que se propagam num silêncio rarefeito

   Vou escrever para você quando o silêncio me fizer companhia  e as pessoas desprezarem a minha.
   Vou rabiscar pontos de ônibus e muros com frases com ou sem sentido para mais ninguém 
   Pela manhã  alguém vai se levantar  e ler uma frase curta em batom carmesim, num espelho que vi por uma janela aberta. Seria engraçado.  
   Vou deixar todas as palavras que não falei, os " eu te amo" que engoli, para você  em testamento.
   Assim elas serão o que eu não fui, depois que eu for.


   Assim o silencio não te fará companhia 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Quando o destinatário é um amigo



Meu amigo, me diga que logo chega.

     Mas venha com bastante bagagem. Quero que traga no peito toda saudade que couber, mas venha de malas vazias. Venha com mais de dez, só para garantir. Vamos enche-las de todas as nossas memórias  amarrotadas e algum casaco puído que se esconde no fundo do guarda roupa. Quando chegasse em casa, por mais estranho que pareça, esqueceria de me falar que perdeu as bagagens com todas as nossas memórias e um casaco puído dentro.
     Em um dia de um próximo inverno, encontraria uma memória quase transparente no bolso de uma velha calça jeans e se lembra que deixou mais de 10 malas na rodoviária. Nós vamos ao achados e perdidos, atrás dos nosso casacos puídos ou até, de nossas memórias, serve o que nos aquecer com mais eficácia nesse tal inverno.
     E se alguém levasse todas as bolsas, não sei se sentiria mais falta das memórias ou do velho casaco puído.

-Insônia.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Romeu e Julieta em um único Ato


    Julieta amava Romeu e Romeu amava Julieta. Ela cresceu idealizando um amor de escritores boêmios que nunca chegou a ler por inteiro. Suspirava a cada frase entre aspas. Ele cresceu decorando nomes de autores e seus dizeres. Suspirava em resposta aos suspiros de Julieta, a cada frase entre aspas.
    Julieta achava que deveria agir como as mulheres dos romances que lia. Por isso, não foi ela quem deu o primeiro beijo.
    Os dois declaravam amor eterno em forma de juras e promessas, todas as quintas-feiras, sempre que tinha platéia. Tinham receio de que se não fizessem, outro candidato melhor ensaiado, faria. 
    Romeu tinha uma pequena anomalia nos neurônios espelhos. Eles eram superativos. Por isso não foi ele quem deu o primeiro beijo. Romeu só poderia beijar Julieta, se ela o beijasse primeiro.
    Julieta amava Romeu que tinha um caso com sua terapeuta, Romeu amava Julieta que tinha um caso com o seu terapeuta. 
    E todas as quintas-feiras, com a participação da mesma platéia, eles juravam amor eterno. 

   

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Homem Triste

O Homem Triste
com seus longos dedos de lança em riste
E as sombras dos sonhos,
nos olhos baços dançam
E na boca em carranca, é sepultada a esperança



O Homem Triste
com seus longos dedos de lança em riste
Os dissabores e desassossegos;
os desatinos e destemperanças
Ali florescem livres como pragas e
semeiam os campos de tu que sorriste



O Homem Triste
com seus longos dedos de lança não mais em riste
Por um pescoço de criança escorrem
e se apertam como tranças
E tu que sorriste,
esconda os motivos, e esconda-os bem


Pois eles serão o inicio de uma vingança de um Homem Triste
e fará triste mais um também.