terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Ao mestre com carinho - Um conto sobre Tzmices




     O Sangue jorra quente na face cor de giz da menina. Ela sorri. Duas orelhas foram cortadas. Um grito saído do pior pesadelo preenche toda a quietude e imundície da sala mal iluminada. E ela sorri, apesar do protesto do corpo torturado. 

-"Por favor, não se debata, - diz a garota sadicamente feliz - não quero ter que anestesiar você.. shh, shh, shh, não chore. Eu sei que dói, eu sei.. - ela recosta, sob um protesto inútil, a cabeça do homem catatônico no seu ombro - Mas eu preciso que sofra bastante para que o desespero fique impresso no seu rosto antes de arranca-lo dos seus ossos."


     O homem se debate como se tivesse sido eletrocutado por essa frase. Puxando as amarras para livrar o débil corpo. Ele está em um "x" quase na parede no fundo da sala. Os braços esticados até o limite dos tendões por roldanas presas no teto e os pés a centímetros do chão segurados por grossas correntes. Ela observa a inútil tentativa do homem animada. "Isso vai ser promissor, dos outros tive que dispensar grande parte do couro porque não estava duro o suficiente. Preciso estressa-lo mais um pouco para deixar a carne rija."

     Ela se aproxima da mesa metálica, forrada de papel verde, onde estão vários bisturis, serras, furadeiras, impecavelmente limpas, contrastando ferozmente com o lugar, limpa o canivete que usou para decepar-lhe as orelhas, guarda no bolso do avental de açougueiro, vira os olhos na direção do corpo pendurado e dedilha os instrumentos. Os olhos do homem acompanham os dedos da menina com tanto medo que um olhar possa transmitir, gotas de suor banham a tez negra, junto com o sangue e as lágrimas. Ela pega uma foto em cima da mesa e olha para a imagem com interesse.

-"Eu vi como sua mulher te trata agora, depois que você deixou o mais velho se afogar na piscina. Estava tão bêbado na sala que não ouviu os gritos de socorro de seu próprio filho - ela cai na gargalhada, quando o homem se desfaz em lágrimas- Quando eu terminar meu trabalho aqui, vou até sua casa.. - ela faz uma pausa e sorve com prazer o olhar de terror do pobre coitado - ... e pregar os dois na parede..."


-"NÃÃÃO! ... por, por favor não... Quem é você? - choro incontrolável- Vo-vo-cê é só uma garotinha, tem quantos? 9, 10 anos? Que espécie de besta sem coração é... VOCÊÊÊÊ!"


-"Eu sou aquilo que até seu Deus deveria temer, uma filha bastarda de Caim - a expressão suave do rosto da garota se transforma, os olhos se acendem e a voz torna-se perigosamente rouca- Sou quem vai lhe dar uma prévia do inferno. Eu tenho um coração, mas ele não bate mais..."- ela pega a seringa de adrenalina na mesa e se aproxima do corpo em choque do homem.


     Ele convulsiona por alguns minutos até o corpo ficar inerte, debilmente pendurado. Ela olha com um brilho nos olhos para o rosto do cadáver. Sorri, mostrando todos as navalhas esmaltas.


-"Padrinho!Padrinho! Pode descer, acabei."


Um homem muito velho, com os ossos tão saltados que parecia um exoesqueleto, desce com calma as escadas. Há muito sangue no piso.


-"Katherinne! Onde você está minha luz na bruma? Oh, aí está você!- Fala com um tom alegre para a menina que acabou de abraça-lo pelo quadril - Qual é a surpresa?


     Katherinne, leva o homem pela mão até metade da sala, onde retira um pano 
de um enorme volume.

-"Disse que da sua velha poltrona não dava mais para sentir o cheiro do horror dos condenados. Então eu moldei a carne e os ossos de três filhos de Adão de pele escura para imitar o couro da sua velha poltrona, gostou?"


     O velho vampiro esculpe no rosto um largo sorriso e se senta na poltrona, fecha os olhos e suspira longamente.


-"Kath, sente aqui no meu colo, vou te contar umas histórias antediluvianas para você. - a menina se senta e da um beijo na bochecha do caianita - Não sei o que seria da eternidade sem você Kath"

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