Há pássaros
que nascem livres. De plumagem simples, mas com um canto que se compara com os
mais suaves bálsamos. É deles o mundo. O céu se faz infinito quando abrem as
asas e alçam voo, deixando que o destino seja ao sabor do vento.
“Eu não estou
aqui e isto não está acontecendo. Eu não estou aqui e isto não está
acontecendo. Eu não estou aqui e isto não está acontecendo...”- repetia a
garota até que a mente acreditasse ou que a mulher em sua frente fosse embora.
O quarto era
banhado com capricho pelos raios matinais do sol de verão, que sinceramente, fazia
o corpo da mulher ser mais edível aos olhos. A pele salpicada de pequenas
pintas claras, os cabelos curtos e negros, as formas esculpidas por um artista
aficionado pela proporção áurea. O
pequeno cômodo quase não suportava a tensão daquele momento, quando ela se
despiu.
“Posso, ao menos, saber seu nome?”- a frase foi cuspida em uma calma histericamente disfarçada.
“Não Amanda, minha querida, não saberá meu nome e talvez nem se lembre de que eu estive aqui. Você...quer... que... as... vozes ...cessem, não quer?”- A medida que o som foi se esvaindo pela garganta da mulher, a voz parecia mais inumana. Antes que a garota tivesse tempo para ter medo, a mulher lhe tomou pela face e lhe sorveu o ar em um violento beijo.
Dor de cabeça novamente, o quarto
à deriva, tentarei chegar ao banheiro em passos curtos. Meu corpo não obedece. Que horas são¿ Ainda
tem luz lá fora. Mas isso não me ajuda muito, não sei se significa se dormi
algumas horas ou acordei na tarde do dia seguinte, ou do seguinte, ou do
seguinte.
Passos no corredor, uma voz familiar afunilada. Meu pai.
“Pai, pai..”- não escuto minha voz.
“Pai, está me ouvindo...”- desespero começa a formigar minhas mãos
“Ele está se aproximando da porta, penso em agonia, GRITE!”
“PAAAAAAAAAI!, AJUDAAAA!” – Nada, o que houve comigo¿ Que monstruosidade aquela mulher fez comigo? O que EU fiz comigo?
“Ele está voltando ao corredor, espera, porque ele voltou com enfermeiros?”
“Não... isso ...dói”-tento falar para eles quando amarram a borracha firme no meu braço.
Espetam uma agulha fria e minhas veias ardem. Choro, mas ninguém pode me ouvir.
Passos no corredor, uma voz familiar afunilada. Meu pai.
“Pai, pai..”- não escuto minha voz.
“Pai, está me ouvindo...”- desespero começa a formigar minhas mãos
“Ele está se aproximando da porta, penso em agonia, GRITE!”
“PAAAAAAAAAI!, AJUDAAAA!” – Nada, o que houve comigo¿ Que monstruosidade aquela mulher fez comigo? O que EU fiz comigo?
“Ele está voltando ao corredor, espera, porque ele voltou com enfermeiros?”
“Não... isso ...dói”-tento falar para eles quando amarram a borracha firme no meu braço.
Espetam uma agulha fria e minhas veias ardem. Choro, mas ninguém pode me ouvir.
Um corvo
pousa na branca janela hospitalar. Uma menina o admira com os olhos úmidos
tornam o verde mais vivo da íris, como se fosse uma terra que almejava ser
visitada pela chuva novamente. Lágrimas se acumulam nos olhos, se equilibram,
mas não rolam pelo rosto. O dia está nublado lá fora. Ela sorri e passa a mão
no curto cabelo loiro. Olha em volta
para as outras meninas do quarto, todas adormecidas. A porta se abre sem som,
só com uma leve corrente de ar. Uma enfermeira
quarentona de quadris largos, cabelos negros e curtos, traz uma bandeja
com dois copos de plástico até a cama da garota. Um com um punhado de remédios
de todas as formas e cores e outro com água.
“Amanda.. acordou bem hoje, querida?”-diz com uma voz suave e treinada para ser assim.
“Hoje eu vou ser uma andorinha novamente¿ Quero ir para o sul... Andorinhas migram para o Sul no verão... talvez até veja meu pai.”
“Pode sim, é só tomar seu remédio, querida...”
“Mas se eu tomar, não vou poder sair daqui hoje. As vezes quando eu durmo, ela vem me visitar e eu vejo a cidade de cima, o vento é frio perto das nuvens, mas eu gosto. Não... quero tomar isso, hoje... – Amanda coloca as mãos na boca e balança negativamente a cabeça.
“Quem vem te visitar, Amanda, uma amiga? - Indaga a enfermeira assustada com a segurança do hospital
“Ela" - aponta a garota ligeiramente para a janela, para voltar a tapar a boca.
“Ah... sua amiga 'corvo'.- Fala a mulher aliviada, as vezes se esquece de quais são as suas pacientes.- “Hoje você não vai poder ser uma andorinha, Amanda. Não, não chore... shhhh, shhh, calma. Toma aqui, toma.”- Ela a envolve em um abraço e a garota deixa que as pílulas sejam empurras garganta a baixo.
“Posssssso... saber seu nome?- fala Amanda com a língua dormente.
“Não Amanda, minha querida, não saberá meu nome e talvez nem se lembre de que eu estive aqui. Você...quer... que... as... vozes ...cessem, não quer?”.
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