quarta-feira, 18 de março de 2015

Morta-pelos-pés



Jaz no chão, o amor que não floresceu.
Jaz no chão, o botão decepado do galho torto.
Jaz no chão, as lágrimas mornas e o soluço rouco.
Aquiles morto, Herácles louco. 
Os grandes permanecem para sempre, mas vivem pouco.
Jaz no chão, meu corpo. 



    Escreveu a poetisa no quarto do casal. A Musa dela dormia nua e ressonava. Tão linda. A poeta deslizou os dedos no cabelo encaracolado de sua amada.

"Morena, sempre soube que seria a flecha no meu calcanhar naquele domingo de outubro, naquele beijo de novembro, nesse 'eu te amo' de dezembro"- Sibilou a poeta, tão baixo que a Musa não ouviu. Nem o homem que dormia ao lado dela ouviu.

    O que se ouviu foi um tiro.

   
   

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